Castelo da Família Real de Riyadh - Arábia Saudita.

Duas semanas. Só mais duas semanas até eu finalmente poder voltar para Hogwarts. A impressão que eu tenho é que as férias se arrastaram, a coisa aqui no castelo continua a mesma de sempre, só... um pouco pior. Papai estava querendo marcar a visita do príncipe, meu querido noivo, com o pai dele para essa semana sem falta, mas eu conversei com Samira, que conversou com a minha mãe, que provavelmente deu um jeito de convencer meu pai a deixar para as férias de dezembro. Fiquei surpresa quando mamãe me contou, e pressionei Samira para descobrir o que tinha falado para ela, mas não adiantou muita coisa. É um milagre minha mãe ter me ajudado, e não consigo deixar de pensar que ela tem algum plano maior por trás disso, mas não vou reclamar. Quanto mais adiarem, pra mim, melhor. Quer dizer... eu sei que não posso e nem tenho condições de ficar adiando isso pra sempre, uma hora eu vou ter que ir lá e casar e pronto, mas não queria que fosse agora. Não queria conhecê-lo agora, foi isso o que quis dizer. Mas sei que de dezembro não passa. Papai não vai adiar de novo.

Estava me sentindo sufocada, desde que voltei de Hogwarts não saí de casa muitas vezes. Não é novidade alguma que não posso ir há lugar nenhum sozinha com Samira, e todas as vezes que eu peço para Zahyn ir com a gente, ele nega, dizendo que tem coisas mais importantes pra fazer da vida (tipo ficar jogado na cama com uma porção de criadas em cima dele o abanando e servindo com quitutes de todos os tipos, segurando um catálogo enorme cheio de candidatas a noivas que papai o entregou, segundo ele todas vêm de boa família, são lindas e um ótimo negócio, pena que meu irmão não tenha a mesma opinião, faz questão de encontrar mil defeitos em todas). E se eu insisto um pouco pra ele ir, se tento convencer, ele diz que vai contar pro papai que estou usando as roupas indecentes das estrangeiras em Hogwarts, então não me resta escolha a não ser ficar quieta no meu canto. Geralmente fico no meu quarto fazendo alguma coisa, treinando novos passos de dança, mas me sentia estranhamente cansada pra isso hoje. Entrei no quarto, com a intenção de deitar, e dei de cara com Samira sentada na cama, segurando um embrulho e um papel. Respirei fundo. Claro que eu já sabia o que era.

-Quando chegou? Me dá. – sentei na cama ao lado dela, peguei o embrulho e abri. Era um véu e uma jóia. Lindo, admito. Um véu dourado que combinava perfeitamente com os delicados brincos de ouro que estavam juntos, na caixinha. Era lindo, mas eu não podia aceitar, não queria aceitar. Sei que é errado dizer isso, porque, tecnicamente, ele É meu noivo, mas... isso é o que está no papel, não no meu coração. E me recuso a ficar com qualquer coisa que venha de alguém que nem mesmo conheço. -Meu pai já viu? Minha mãe? – vi ela negar, e fiquei aliviada. Isso tornaria as coisas muito mais fáceis. Peguei a carta, mas nem me dei ao trabalho de abrir e ler, apenas rasguei e coloquei os pedacinhos dentro de uma caixinha, que enfiei no fundo da gaveta. -Pode pegar pra você, Samira. Ou então, entrega pra alguém na rua, pra alguma amiga, vende, sei lá. Só não deixa isso aqui, não quero. Some com isso, por favor, mas seja rápida e discreta, pra ninguém desconfiar. – ela tentou protestar, mas eu lancei aquele olhar de cachorro sem dono que ela não resiste, e saiu do quarto. Todas as vezes que recebia alguma coisa do príncipe, acabava irritada. E o melhor jeito de me distrair, de me acalmar, é... dançando. E foi o que eu decidi fazer, porque só aquilo me ajudaria a pensar melhor no que acabara de fazer, e não conseguiria dormir ou descansar agora. Fui imprudente e irresponsável, eu sei, e me arrisquei demais. Se alguém descobrir... ok, melhor não pensar nessa hipótese ainda. Troquei de roupa e fui para a sala, onde tinha mais espaço.

Liguei o som e comecei a dançar. Sentindo cada movimento, sentindo a alegria e calma que aquilo me dava, sentindo a... liberdade, que eu tanto queria, e que só conseguia quando estava ali, dançando. Era como se não precisasse obedecer ninguém, era eu quem controlava os passos, pra que lado ir e que ritmo tomar. Era bom. Podia ficar daquele jeito por horas e horas, pro resto da vida, talvez, e não me importaria, nem perceberia. Minha intenção era passar boa parte da manhã ali, e esquecer que meu pai, minha mãe, meu irmão, os criados, até a Samira, existiam. Esquecer os problemas, casamento, contrato, tudo, e me concentrar somente na música, na dança e no vento que fazia meus cabelos balançarem e cortava meu rosto. Era só disso que eu precisava.