RP FECHADA - 20 de agosto - Aislin e Lewis

As coisas estavam indo estranhamente bem até um homem sair da loja gritando.
Eu acho que ele havia notado aquela estante vazia no meio da sua loja. Ou talvez ele só tenha me visto passando o braço nas prateleiras. Ou até mesmo chegado a tempo de assistir quando eu disfarçadamente saí com um saco maior que eu nas costas despejando joias pelo mundo, é.
Enfim, agora, além de um saco inteiro me incriminando, eu ainda tinha o pequeno problema de que o beco diagonal estava lotado e eu não conseguia dar nem um passo. Bem, eu ainda acho que deveriam criar alguma lei que melhorasse isso. Tipo “Todos abram caminho quando um ladrão quiser passear com seu furto” ou algo assim. Mas enquanto isso não acontecia, o jeito era sair quebrando todo mundo e se meter na muvuca. E era exatamente isso que eu estava fazendo agora.
E digamos que apesar dos xingamentos e de uma velha tentar me azarar, eu estava me saindo muito bem. Só que não. Depois de mais ou menos uns cinco minutos, eu comecei a achar que era coincidência demais que aquele garoto que eu havia quase destroncado estivesse pegando o mesmo caminho que eu. Tipo, eu havia virado pelo menos umas vinte vezes! Mas não custava virar mais uma pra conferir, é.
Só que ele virou de novo. Mas que dessa vez, sendo a pessoa super ninja que praticou nas férias que eu sou, eu já estava preparada e transformada em uma velhinha sinistra na surdina. Por que boa coisa não ele era né meu povo? Mas ao invés de sair correndo pros guardas gritando como uma garotinha inofensiva, eu achei melhor resolver eu mesma. Até porque não é uma boa ideia ir falar com os guardas com uns cinquenta galeões de tralhas roubadas nas costas, é.
Mas enfim, eu tava indo toda sutil bater com minha nova bengala nas costas dele, quando ele se virou do nada e se aniquilou sozinho. Garoto esperto, é. Mas então, eu fui no embalo, e meti um pé quase na cara dele enquanto voltava ao normal.
- Por que está me seguindo? – essa devia ser uma das perguntas super úteis pra pegar estripadores mal amados. Só que não. Bem, ele não tinha cara de estripador... Mas tinha cara de tarado que da no mesmo.
-Calma, calma, vamos ser civilizados, não esto.. ei você é a menina do bumbum grande!- Então eu tirei o pé de cima dele. Será que ele era algum tipo de chupacabra tarado que chupava bundas? Bem, pelo menos ele era bonitinho. Mas isso não me fez não meter um chute na sua perna, só pra constar. Filhote de cruz credo andando deve ser pior, é. Só que vai que o bicho se transformava ali mesmo? Ele nem ia precisar da pata pra me pegar. Então eu achei melhor meter a varinha na cara dele logo. Eu não fiquei melhor em feitiços em todo esse tempo, mas pelo menos assim eu botava medo. É.
- NO ROSTO NÃO! Podemos conversar sobre o assunto? – agora me digam: desde quando a pessoa sai conversando com o sujeito que quer a sequestrar ou chupar seu sangue? Eu já estava quase tentando explodir a cara daquela criatura desafortunada, quando aquele homem egoísta da loja de joias apareceu gritando na rua do lado. E, por favor, entre ser presa e torturada e ter meu belo corpo estragado na prisão ou me unir ao ser maníaco tarado sedento de sangue, eu ainda prefiro a segunda opção por que se eu morrer eu vou ficar famosa, é.
- É, nós podemos. Vai ser assim ó: você vai carregar esse saco e fingir que é uma pessoa inocente com uma irmãzinha inocente – dei um sorrisinho enquanto ele me olhava sem entender nada – e depois eu deixo você pegar na minha bunda ou qualquer coisa assim que não envolva sugar meu sangue, é. Ou você pode se recusar e eu explodo sua cara agora. Então, um ou dois?
Eu nem sei nenhum feitiço pra explodir pessoas, mas eu sou boa no botar pressão, e ele respondeu um sem pensar muito – Ótimo! Ta aqui, ó!- Joguei o saco em cima dele, enquanto me transformava em uma garotinha morena. Qualquer coisa era só sair correndo e deixar ele com toda a culpa, mas o cara nem sequer prestou atenção em nós. Ele nem voltou ali, nos dez minutos em que eu fiquei vigiando. Sério, pensei que pra ter uma loja cheia de ouro você devia ser mais inteligente, é.
Enfim, depois de um bom tempo esperando e enrolando ali, finalmente voltei ao normal. E só então – depois de fazer um bom exame no garoto pra ver se ele não era um ser do mal – eu o levei até onde realmente queria ir.
Digamos que eu havia conhecido uns trouxas na vila, durante as férias. Eles não eram exatamente as melhores criaturas para se andar, mas tinham um grande amor por crime e destruição difícil de ignorar. Além de, é claro, a coisa que havia me trazido aqui hoje. Aqueles fantásticos pós coloridos, e aquelas ervas alucinógenas maravilhosas.
Eu sabia que não era coisa de gente trouxa. Por que, sinceramente, fazer mágica com a nossa mente não é bem a especialidade deles. E assim que um deles falou que havia comprado de um cara baixinho com só um olho que estava lendo um jornal que se mexia, bem, não foi difícil deduzir.
Só foi difícil cruzar a travessa do tranco inteira só com isso, é. Mas enfim, depois de quase uma hora, eu finalmente avistei o sujeito, e quase saltitei até ele. Só que isso ia entregar demais e ele ia aumentar o preço, então não. Assim que me aproximei, pedi pelo pacote completo das macumbas, e ele me olhou com uma cara de quem não acreditava que eu ia ter dinheiro pra tudo. Bem, faz sentido. Ele estava praticamente pedindo o olho da cara. Só não entendo porque ele não pediu literalmente pra poder enxergar de novo, é. Mas enfim, depois de esfregar o saco de joias na cara dele, só que não, ele finalmente me deixou pegar aquela preciosa caixinha. E só então eu sai saltitando de volta pro beco diagonal, arrastando aquele garoto com cara de tacho junto. Mas isso só por que ele não parecia inteligente o suficiente pra achar o caminho de volta sozinho, é.